O ser humano é uma máquina imperfeitamente perfeita. Imperfeitamente perfeita pelas coisas que já atingiu e pelo impacto que já causou neste planeta. O ser humano tem tanto poder nas mãos que eu me questiono até que ponto esse poder os consume. Os consume ao ponto de não saberem limites de quando parar. Egoísmo. É egoísta ao pensar nele próprio e de fazer experiências sem pensar no amanhã. Vivem o momento que não é errado de todo. O ser humano é basicamente um quadro pintado, cheio de erros, falhas que é impossível serem preenchidas. Há um grupo muito pequeno de ser humanos, uma espécie de humanos em vias de extinção que continuam a mesma ser imperfeitamente perfeitos. São aqueles humanos que ainda se importam com o vizinho do lado, que fazem uma boa ação só porque se sentem bem e não porque tem um interesse qualquer, um ser humano que chora, um ser humano que sente, um ser humano que assume os erros daquilo que faz e que tenta melhorar, tenta ensinar e passa a mensagem desse erro.
Já me disseram que a melhor maneira é aprender com os nossos próprios erros, mas é sempre bom quando alguém nos dá umas pequenas armas para a grande batalha da vida. Ou seja, na minha opinião, o ser humano também é um mensageiro, dizer ou dar a saber aqueles que vão fazer um percurso parecido, ou então o percurso de vida que toda a gente tem de o fazer, que toda a gente inicia da mesma maneira — nascer, viver e morrer. Isso é certo. Quando acontece e como acontece, isso aí já varia muito. O ser humano foi feito para deixar marcas, deixar testemunhos, experiências, aprendizagens e as vezes isso não é usado da melhor maneira, ou não é interpretado da melhor maneira e cada vez mais esse grupo que eu chamo de ser humanos em vias de extinção está a ficar cada vez mais pequeno.
A vida é mais que o nosso próprio umbigo, a vida é mais que mostrar as posses, os bens materiais que uma pessoa tem, a vida é mais que comida, sexo, lazer, a vida é mais que isso. A vida é boa. A vida pode ser boa e tem de ser.
Nada nos dá certezas se existe algo depois disto. Mas mesmo assim, toda a gente ou maior parte vive como se fosse ter uma segunda oportunidade. Nascemos, preparámo-nos para os próximos longos anos que nos esperam, quer de trabalho, de relações, dedicação a família onde tudo será posto a prova através de discussões, falta de paciência e falta de comunicação.
Novamente, não está errado viver o dia a dia como não está errado esperar pelo dia do amanhã, mas, a questão é, será que haverá o dia de amanhã? E que pensas sobre os testes de vida, sobre as doenças que te dão um prazo de validade, o próprio limite de cada pessoa? Será que é melhor planear a curto termo algo pequeno ou sonhar algo grande? Isso é um mistério que ninguém vai conseguir decifrar. Cada um tem de falar por si porque cada um é único. Por isso, humanização dos humanos, devia ser uma categoria que se deveria abordar muito mais. Nós estamos a esquecer de quem somos, o que nós conseguimos até chegar aqui, falando individualmente. Muitas vezes somos admirados por outros, mas nem damos valor a nós próprios e se calhar aquela pessoa só pedia um bocado para ser como nós ou ter um pouco do que temos. É MUITO CONFUSO, eu sei.
Exige uma força e uma energia tão grande para ser único, para ter vontade e dedicação para estar nesse pequeno grupo de humanos em vias de extinção.
Eu as vezes olho para o mundo e já fico cansada de absurdos, coisas estúpidas que acontecem. Mas quem sou eu para estar a falar nisso. Aqui dentro há veias, sangue quente, onde corre os erros dos outros, quando, na verdade temos nas mãos o poder para mudar, mas o cérebro tem a capacidade de suspirar coisas do género — “Tu podes ir à luta, até podes ir sozinha, mas tu vais ficar KO num instante”. Cérebro traiçoeiro.
Só no resta afogar estes pensamentos com outros tipos de pensamentos. Sábia filosofia, positividade atrai positividade e vice-versa. Constante luta — Brain vs Heart.
Quando o coração sabe o quanto tu vais chorar, o quanto tu vais sentir a solidão, tu vais duvidar de ti, dos teus princípios e dos teus propósitos.
Questões e mais questões.
Há uma certeza nisto tudo, ninguém é maior ou superior que ninguém. Eu já me senti rebaixada, eu já rebaixei e nenhuma das opções são boas de se sentir. Não há dinheiro, bens materiais que definam o estatuto de superioridade.
Eu vivo o presente, mas preocupo-me muito com o futuro, porque não há pior sentimento do que remorso. Uma coisa é um coração partido, uma desilusão qualquer, que depois vem a típica frase “o tempo cura tudo”, mas o remorso de pensar de quando chegamos ao fim da linha e olhar para trás e morrer insatisfeito. Um ser humano é muito mais do que isso, um ser humano pode mais do que isso, cada um da sua maneira.
O ser humano, aqueles que não pertencem ao grupo de humanos em vias de extinção, não está a olhar a meios para atingir fins.
Há vidas tiradas em guerras sem piedade e sem justiça, família a matar família, a competição que há no mundo do trabalho, a pressão que há para uma pessoa se destacar dos outros que só assim irá brilhar dizendo-te que tens de ser especial, tens de ser único, mas, no entanto, só te vais destacar pelos erros ou quando observado pelos que te invejam.
Há algo mais, neste futuro que esta a minha espera. Eu não sei o quê, mas há algo, ali muito a frente que eu vou ter de enfrentar (ou já estou a enfrentar) e eu sei que aí vai ser o meu propósito, vai ser aí que vou deixar uma mensagem e uma pegada.
Eu vim a este mundo, onde só há uma única eu, mesmo que haja alguém parecido fisicamente, só há uma única eu com os meus pensamentos, com o meu coração e a combinação disso tudo. Só eu vivi (vivo) as minhas batalhas e as minhas experiências e eu estou a aprender como viver e que há de chegar o momento em que tenho de deixar a mensagem e de passar as minhas armas a outros guerreiros.
Ás vezes custa, mas é preciso relembrar os erros para cumprir a função de humano mensageiro para passar a mensagem. Ninguém devia guardar uma experiência para si próprio, aliás ninguém devia guardar nada para si próprio porque somos mensageiros e passageiros da vida.
Cada ser humano é tão único, parecido, mas tão único. Este momento é meu, mas amanhã tem de ser de muitos. É assim que a lei da vida tem de ser. É para isso que temos ADN. A mensagem que nos foi transmitida e que fica para transmitir, entendendo isto cientificamente e filosoficamente.
Sim nem tudo está perdido, existe uma espécie em vias de extinção. O humano que perdoa, humano que não mata, que não julga, ajuda sem interesse e tem um propósito maior no mundo do que o seu umbigo ou necessidades básicas.
O erro de ontem, a lição de hoje e o sucesso do amanhã.
Errar esta no nosso ADN, aprender com esses erros, está no nosso cérebro, voltar a repeti-los está nas nossas mãos.
Eu concordo, este texto é confuso, mas também é para eu dizer a mim mesma que o tempo se esgota, a vida é curta e que não estou a aprender com os meus erros.
Estou longe de ser uma humana em vias de extinção, mas trabalho para fazer parte desse grupo.
São apenas partilhas dos meus pensamentos. Vamos opinar sobre isto.
Patricia Vila Nova
12 Janeiro 2021
Lembrou-me um texto que escrevi em janeiro de 2019, e passo a transcrever:
“Como diria John Donne no Meditações VII, “nenhum homem é uma ilha isolada”.
Pegando no pensamento do professor Clóvis de Barros Filho, já os filósofos gregos haviam morrido, Platão morreu, Aristóteles morreu, e o pensamento filosófico grego também foi morrendo e aos poucos substituído por outros pensamentos. Ideias e ideais foram-se transformando ao longo do tempo e heis que 350 anos depois do grande Aristóteles, nasce um grande pensador que ensina algo que o mundo jamais ouviria antes. Este homem, mais que filósofo foi um pensador, um professor, um explicador de excelência que apesar de lhe atribuírem santidade, profetizador, Messias com histórias milagreiras e mágicas para estupidificação do povo em nome de uma identidade extremamente toda poderosa ao qual lhe deram muitos nomes desde Deus, Krishna, Javé (Jeová), Allah, os diversos Budas, ou Oxalá, (e oxalá tanta divindade junta não entre em maiores conflitos quando estiverem todos juntos na tasca do tio Zé a beber um quartilho de tinto maduro), este professor nascido durante o Império romano de César Augusto, trouxe ao mundo civilizado filosofias que o mundo não havia ouvido antes. Um subversivo do judaísmo, Jesus de Nazaré vai respondendo ao mundo que o rodeia várias questões que, e não é que fossem colocadas numa forma poética, o povo ia colocando tal como o fazem hoje no dia-a-dia. Questões de vida, questões do coração, questões de política, questões de sociabilidade e socialização, questões morais e éticas na sua forma generalizada. Mas uma dessas questões que ainda hoje fazemos ao espelho enquanto narcisicamente penteamos o cabelo, o que no meu caso seria mais olear a careca, ou cortamos a barba e pomos três quilos de cremes nas ventas é: o que realmente temos de ter na vida para uma vida bem vivida, uma vida que valha a pena, uma vida mais feliz.(?) Bom…, Jesus na sua enorme sabedoria e pensamento de excelência, responde com algo muito simples que ainda hoje tem um impacto titânico na mente das pessoas em dois sentidos de percepção. O bom, e o mau. O bom, porque faria de alguns de nós seres melhores, o mau porque isso iria ter um forte impacto negativo nos planos monopolizantes no ponto de vista de alguns outros. O que Jesus disse em resposta ao que realmente precisamos para ter uma vida boa, uma vida que valha a pena, uma vida bem vivida, uma vida mais feliz caiu na consciência das pessoas, independentemente dos seus credos, moralidades ou religiões, de forma altamente bombástica. Alguns acharam um sacrilégio, outros, não sei se mais ou se menos, refletiram seu pensamento na vida e para a vida, e apesar do que vemos acontecer no mundo, ainda há muita gente que o pratica, essa mesma filosofia que Jesus pregou. Então Jesus revela que para a vida valer a pena, para ser um pouco feliz, o que precisamos, é de viver uma vida, decididamente dedicada ao outro! Bom! Isto provocou uma certa revolução no espírito das pessoas naquele tempo! Mas, ainda mais hoje num mundo tão líquido e sem forma como diria o professor Zygmunt Bauman, porque fomos ensinados ao longo de geração atrás de geração que para ser feliz, para ter sucesso na vida, para a vida valer a pena, devemos consolidar o “eu” primeiramente antes do “nós”, facultando o nosso próprio ganho, o nosso próprio conforto em primeiro lugar antes de algum dia pensarmos no outro. As palavras do professor Jesus espantaram tudo e todos, e repare que Jesus não acompanhava intelectuais e poderosos mas sim prostitutas, excomungados, sem-abrigo, mendigos, e até “cobradores de impostos”. Mas, como viver a vida em deferimento do próximo sem antes cuidar de mim? Pois bem, você pode cuidar de si em deferimento do outro sem se pôr em primeiro lugar. Basta que o que faça seja feito no sentimento de que ajudou alguém a viver melhor, a sorrir um pouco mais, a ser um pouco mais alegre sem esperar uma factual recompensa, pois a recompensa já está no acto em si, o que lhe irá provocar um instante de sentimento de que viveu uma vida que valeu a pena, e que todos esses momentos dedicados ao outro ao longo da vida, foram instantes de vida feliz. Não adianta procurar fórmulas de felicidade, porque isso não existe. Não adianta adorar estátuas e fazer sacrifícios horrendos dando-lhes crença mágica e milagreira porque não é por aí que algum de nós vai ser feliz para sempre, ou pelo menos mais constantemente. Mas apesar do meu ateísmo eu costumo sempre aconselhar o religioso a rezar, especialmente em lugar silencioso e calmo. Na reza não encontrará as tais fórmulas de felicidade constante, mas encontrará algo mais valioso. Meditação e paz de espírito, e se ao crente faz bem, então reze.
Quando viajamos de avião e as hospedeiras dão instruções de segurança, reparem que uma dessas instruções é de que na necessidade do uso de colete salva vidas, você deve primeiramente colocar o seu e só depois ajudar os mais incapacitados, ou com mais dificuldade, porque se tentar fazer o contrário, provavelmente não terá tantas hipóteses de sobreviver. Muitos acharão que estamos a ser egoístas de forma a salvar a nossa pele, mas agora imagine que a pessoa que está ao seu lado é sua esposa ou esposo, que é sua mãe ou pai, que é sua filha ou filho? Provavelmente a maioria das pessoas tentaria colocar o colete primeiro na pessoa que está ao lado erroneamente, mas o fará porque é alguém muito importante para ela e vai-se preocupar primeiramente com o bem estar do outro. Exemplos não faltam, e falar de actos heróicos pelas pessoas que amamos será sempre visto com alguma desconfiança, pois é alguém que conhecemos e temos sentimentos e laços afectivos que nos farão actuar mais facilmente que para com um estranho. Mas veja bem, qual será o sentimento de um bombeiro depois de salvar um desconhecido de um quinto andar num prédio em chamas? No Haiti, aquando do grande terramoto em 2010 pessoas corriam, definhavam para ajudar estranhos entre os escombros. No sul da Ásia em 2004, em vários países pessoas corriam e definhavam para salvar estranhos prestes a afogar no maior tsunami que tinham presenciado na vida deles. Aliás, que até então o mundo assistia confortavelmente na sua poltrona de boca aberta em frente da televisão. Na Síria, um país que se atomizou e desmoronou completamente, pessoas correm e definham para que civis inocentes possam escapar da guerra e salvar-se, enquanto outros se catapultaram no mar. Em muitos países acolhemos estranhos sem saber o que são, quem são, se são pessoas de boa ou má índole em prol de lhes proporcionar um instante, ou uma vida melhor e mais digna. Eu recordo quando era criança muito pequeno, o meu pai apareceu com uma rapariga francesa em casa. Esta moça de aparência mestiça entre o europeu e o africano, morena, de cabelo meio curto encaracolado com uma tez e feições muito bonitas, tinha viajado de autocarro e veio ter com um grupo de alunos a fim de visitar Portugal, inclusive a minha cidade natal, Guimarães, que pelo menos fazia parte da viajem que haviam planeado e seria o último ponto de visita. Esta rapariga que não sabia uma palavra de português, depois da última noite a menina devia voltar sozinha a França um passeio livre pela cidade. Não recordo agora se por falta de entendimento, organização ou sincronização, a rapariga quando chegou ao cais da central de autocarros onde deveria entrar no veículo com destino a França, este já havia partido sem ela. De qualquer forma, a rapariga acabou por chegar ao posto da polícia onde o meu pai trabalhava, e ao invés de ser entregue ao serviço de estrangeiros e fronteiras o meu pai resolveu levar a rapariga para nossa casa e ali ficou até que houvesse novo autocarro para França, o que naquele tempo, mais ou menos lá pelo “período Cretáceo”, os autocarros internacionais ainda eram muito escassos, a pedal, e os dinossauros ainda não permitiam uma circulação muito satisfatória. Bom, o certo é que mesmo sem sabermos francês para melhor comunicação a rapariga lá ficou em nossa casa. Conseguiu-se o contacto com os pais da rapariga de forma a tranquiliza-los, e a combinada viajem da rapariga de regresso a França. Salve-se que como ela em França via muito televisão espanhola por habitar junto da fronteira de ambos os países, ainda conseguimos alguma comunicação entre palavras pouco bem expressas. Chegou a hora de voltar para a família. A rapariga chorava desalmada abraçada a minha mãe no dia da despedida. Deve ter sido da comida fantástica que minha mãe sempre cozinha. Talvez seja por meus pais serem pios religiosos, talvez seja porque assim foram educados, talvez porque sejam as suas consciências morais e éticas que os façam dedicar a vida decididamente ao outro, mas o que é facto, é que por muitos anos essa mesma rapariga e seus familiares enviavam todos os anos cartas lindas de agradecimentos, de boas festas, de desejo de uma vida boa e feliz a toda a nossa família, e isso, depois da entrega, depois de dedicar tempo e vida a outro, a uma estranha, com certeza se perguntar aos meus pais eles relembrarão a rapariga com muito carinho, dirão que todo o segundo de ajuda valeu a pena e que assim são mais felizes, porque vale sempre a pena ajudar o próximo e sentirmo-nos vaidosamente um pouco mais felizes e melhores.
A minha enteada Joana, a mais nova, fez este ano 14 anos e como criança que é, cheia de vida, energia e especialmente imaginação, a Joana já desde a última festa de aniversário que planeia e imagina a próxima. Hoje nem tanto, mas para além das festas de aniversário, a Joana pedia para fazer uma diversidade de festas de crianças em nossa casa. Emigrada com a mãe, uma irmã mais velha, e um irmão há pouco tempo na Suíça, Joana fez rapidamente amigos e facilmente arranjou forma de os manter fazendo festas em casa. Era a festa do pijama, festa do cinema em casa que parecia o festival de Cannes em miniatura mas com mais bagunça, festa da pizza, festa do saco de cama, festa da pipoca, festa da pesca do arroto, eu sei lá…! Havia festa pra tudo lá em casa. Mas a Joana quase sempre pede primeiro a mim do que à mãe. À mãe ela só informa: “o Carlos deixa!” Ela consegue quase tudo de mim com uma facilidade extrema. Aliás, todos eles conseguem. Dificilmente nego a qualquer um dos meus enteados qualquer pedido deles, mas talvez porque a Joana é a mais nova e requer mais atenção e cuidados, e também com quem convivo mais, é a quem eu dou mais de mim. Um belo dia, já lá vão uns dois anos e pouco, eu disse que sim à Joana para uma festa. “Uia!” Eu pensei que estava ali em casa a escola toda. Se fosse uma discoteca só dançava com os olhos e as pestanas, mas afinal era só a turminha dela, mas as crianças são como a água. Elas ocupam todos os espaços. E é fim-de-semana, e queremos descansar, mas escusado será dizer que praticamente fui expulso de casa até ter autorização oficial da festeira para regressar, e com ingresso, documentos, e autorizações especiais carimbadas. Mas pergunto, que espécie de idiotas somos nós que saímos de casa umas boas horas à espera de autorização de uma criança pra voltar para casa? Esses idiotas somos todos nós, ou grande parte de nós, não somos? O sorriso de qualquer criança derrete-nos, não é? No fim do fim-de-semana de festa da Joana, já sozinhos em casa, ela chega ao pé de mim, abraçou-me pela barriga, pois era bem mais pequena que hoje, e com aqueles olhos de mel disse-me: “Obrigado Carlos. Foi a melhor festa da minha vida. Gosto muito de ti!” — Ai!!!! Aquilo bateu ali nas minhas entranhas que até estalou! Talvez eu seja mesmo assim, ou como diria um professor brasileiro que para os crentes de astrologia, “caranguejo chora até em inauguração de supermercado”! Aquilo foi um momento fantástico que me assombra e provoca calafrios até hoje! Tudo porque abdiquei do meu sossego, do meu bem estar, da minha “poltrona” em deferimento da felicidade da Joana.
Os exemplos continuam. Aquela pessoa que pára o carro no meio da estrada e ajuda alguém com dificuldades a atravessar a rua, ou simplesmente arruma qualquer objecto que possa provocar um acidente. Alguém que mesmo sem ser nadador-salvador atira-se à água para salvar alguém em apuros. Aquele animal resgatado da estrada atropelado e levado para casa e cuidado, mesmo não tendo grandes condições. O polícia que reanimou um bebé com paragem cardíaca, o médico que saiu a meio do seu descanso para socorrer alguém, o voluntário que alimenta durante o inverno os mais necessitados sem que nada lhe peçam. A velhinha que o estranho ajudou a levantar do chão quando caiu. A pessoa que deixa o cadeirante passar à frente na fila do pão, ou até aquele estranho que vê outro estranho no aeroporto a chorar e simplesmente chega lá e o conforta. O outro. O bem estar do outro… Feliz é aquele que consegue ver a alegria no outro através das suas acções, do seu tempo investido, do seu empenho, e quando fazemos isso muito antes de pensarmos nas nossas próprias conquistas, no nosso próprio enriquecimento, no nosso próprio acumular de bens, na nossa própria enfatização na busca do reconhecimento do outro sobre nós, nós fazemos. E fazemos porque é o que vale mais, proporcionar um instante de alegria, um instante de felicidade ao outro, e se o outro por um instante quer voltar a estar consigo, a conversar consigo, a passear consigo, a festejar consigo independentemente do tipo de relação que tenha, de amizade, de amor, de família, de conhecido, ou desconhecido, são todos esses momentos que você proporciona ao outro que dão sentido à vida, e nos dá o feliz sentimento de que vivemos uma vida que decididamente valeu a pena, que decididamente foi mais alegre, que decididamente foi mais produtiva, que decididamente foi mais feliz. Felicidade não é um estado permanentemente. Felicidade é um instante de vida que não queremos que termine mesmo que tenha apenas durado um mísero segundo. Então, eu espero que de alguma forma, numa mera simples frase de todo este texto você volte a reler-me. Que você diga, – Carlos, escreva mais coisas”-, que você fique curioso e procure mais escritos meus, que você diga que estou certo aqui, que você diga que aqui concorda mas aquele outro pensamento não está muito alinhado, ou que tudo está escrito equivocadamente no seu ponto de vista. Mas espero ter conseguido que você tenha lido tudo e critique-me com inteligência, seja para o melhor ou para menos bom. Espero que por um instante eu tenha proporcionado um bom momento a todos os que me leram.
Para este texto, inspirei-me num professor inteligentíssimo da actualidade, num outro professor universalizado por pensadores, historiadores e religiosos pelos seus pensamentos, mas também me inspirei no homem da fotografia com quem tive o prazer de conhecer. Um Checo, na cidade de Praga durante o fim-de-semana de Páscoa de 2018. Num dos seus intervalos entre as melodias que ele tocava tão docemente naquele violino na rua, eu disse-lhe que ele tocava lindamente, e perguntei-lhe se não tinha oportunidade de tocar numa filarmónica, ou concorrer a uma. Ele respondeu-me que isso era para estrelatos. Ele apenas estava ali para entreter as pessoas que vagueavam pelas ruas de Praga, e apenas esperava que elas sorrissem e apreciasse a sua música, mas eu, desconfiado daquela caixa aberta com algumas notas e moedas perguntei-lhe porque é que estava a aceitar aquelas recompensas.(?) Ele então explicou-me que era professor de artes e humanas na Universidade Carolina de Praga, e apesar de ser uma universidade muito requisitada, não tinha fundos monetários para promover uma viagem de estudo que estava a preparar ao Vaticano com os seus alunos. Eu fiquei pasmo a olhar-lhe nos olhos, talvez à espera que ele descosesse alguma mentira, então ele continuou a explicar-me que em vários pontos da cidade iria encontrar mais dois professores, e alguns alunos espalhados pelas zonas mais turísticas facultando espectáculos de entretenimento de rua aos turistas com o mesmo propósito. Que poderia confirmar pelos cartazes que estariam junto deles. Então voltei a questionar, -“mas você não tem aqui nenhum cartaz!”- o qual ele retóricou que havia cedido a um outro violinista, também professor e seu colega, que estava na famosa Ponte Carlos, ou Karluv Most, a ponte mais emblemática e turística de Praga, pois lá conseguiria mais fundos do que numa simples travessa perto do metro onde se encontrava. Então, quando eu pensava que era apenas mais um pobre, ou até mendigo a pedir na rua, afinal era alguém que apenas estava a tentar proporcionar algo de bom aos seus alunos e a todos os desconhecidos que por ali passavam. Numa última pergunta, questionei-o se todas aquelas horas ali no frio, em pé, se valeria a pena o esforço. Apenas disse-me que todos os seus alunos valiam a pena, tal como todos os sorrisos de quem passava ali e ouviam sua música, mesmo não depositando qualquer recompensa monetária na caixa.
(Ferreira Carlos)”
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Muito obrigado pela seu comentário. Realmente tem pontos em comum. Retirei esta parte: “O que Jesus disse em resposta ao que realmente precisamos para ter uma vida boa, uma vida que valha a pena, uma vida bem vivida, uma vida mais feliz caiu na consciência das pessoas,”. E esta frase: “todos os seus alunos valiam a pena, tal como todos os sorrisos de quem passava ali e ouviam sua música, mesmo não depositando qualquer recompensa”. É o mais importante desta vida. Muito obriagado pela sua partilha. Um forte abraço. Patricia
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